quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Promessas...

Sempre me enrolo para cumprir minhas promessas. Eu faço promessa demais, pra qualquer coisa. A maioria delas é pelo Flamengo. Como não jogo, a forma de encontrei de ajudar é essa. Já fiquei sem tomar refrigerante, sem comer arroz... Nesse último brasileirão paguei a promessa antecipadamente.
A última promessa que paguei foi feita inspirada em um primo. Assim que completasse a sua graduação, ele percorreria à pé a distância da cidade em que estudou até Aparecida do Norte. A inspiração foi essa, a distância que eu escolhi foi bem mais modesta. 20 km era a meta a ser batida, por ter me formado e por ter conseguido aprovação no exame de ordem. Aqui é necessária uma pequena explicação. Formar-se em Direito é muito bacana e tals, mas não é o suficiente. Na minha cabeça a aprovação no exame de ordem era o fim do curso, por isso só paguei a promessa quando obtive a aprovação no referido exame. Me formei em julho e fiz o exame em agosto e setembro, por isso só paguei a promessa em janeiro.
Avisei o pessoal de casa da caminhada e fui jantar pensando na programação da manhã seguinte. A motivação começou na janta. Escutei algumas vezes que não iria nem levantar da cama. Em alguns casos, a torcida contra me motiva bastante. Tive muita ajuda e incentivo também. Meu pai levantou cedo, me levou água e fez a marca da metade do caminho, 10 km.
Levantei cinco da matina e comecei a arrumar tudo. Cinco e meia a aventura começou. Eu, Deus e um mp3 player com músicas do Rocky Balboa para motivar. Estava escuro ainda. Ver o sol nascendo foi o primeiro presente da longa caminhada.
O começo foi só empolgação, o ritmo da caminhada estava muito bom, uma média de 5 km a cada hora. Sempre passei por esse caminho de carro, e de carro a gente não percebe como tudo é bonito. A paisagem, as casas, as fazendas, os bichos, tudo combinando. As pessoas interagindo com a natureza de forma sustentável.
Pensei que a maior dificuldade seria levantar de madrugada e sair. Imaginado que tinha percorrido 8 km já demonstrava alguns sinais de cansaço e tinha desligado o mp3 para poupar pilha. Meu pai foi me encontrar pra ver se estava tudo bem e deu a grande notícia que tinha percorrido um km a menos do que imaginava. Deu uma puta vontade de entrar no carro e voltar. Ele marcou a metade do caminho, arrumou água e foi embora. Agora não tinha mais jeito, ia ter que terminar. Não podia desistir ali, tava quase na metade e ia dar razão para todo mundo que duvidou. Algum tempo depois cheguei à metade do caminho, os 10 km. Um saco plástico em uma placa foi a marca deixada para a metade do percurso. O apanhei e usei para colocar as garrafinhas de plástico e para comprovar que realmente estive por lá.
Metade da meta havia sido fechada. A outra parte pareceu uma eternidade. O caminho deixou de ser tão bonito como na ida. Não dava mais para reparar, a cabeça tinha que estar totalmente focada em acabar a caminhada. “Sem dor, sem dor”, lembrava do Rocky apanhando e falando. Antes dos 11 km a pilha do mp3 acabou. Agora realmente estava sozinho. Lutar contra si mesmo não é das tarefas mais fáceis. Ainda bem que o clima ajudou, o sol ficou escondido e não choveu. O tempo foi passando e a cada ponto de referência eu ia me animando, a caminhada estava acabando.
Agora não dava mais para parar, faltava muito pouco para acabar. Tive que diminuir o ritmo, no fim estava praticamente me arrastando. Cheguei em casa bem casando. O tempo total gasto nos 20 km foi de 4h54mim e 54 centésimos.
Comecei o ano cumprindo uma das promessas de fim de ano. Pagar minhas promessas. Espero que essa caminhada ajude a alcançar outras metas para 2010, como ser mais tranqüilo e tolerante.
A recuperação completa demorou quase três dias, mas a alma estava bem descansada.
P.S.:Só para constar, o caminho que percorri fica entre São Sebastião do Rio Verde e Virgínia, cidade que meus amigos brasilienses pensam que não existe. A caminhada foi realizada no dia 05/01/2010, aniversário de 59 anos do meu pai.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O Haiti é aqui!

Tive sonhos muito ruins essa noite. Sabe quando você sonha com imagens que já viu? Foi isso que aconteceu. Sonhei com imagens da tragédia do Haiti. Não tinha intenção de escrever nada sobre isso, mas começou a me perseguir...
Lamento profundamente quando acontece esse tipo de coisa. Em qualquer lugar seria uma pena, no Haiti as proporções são bem maiores. O país mais pobre das Américas não tem estrutura nem pra receber socorro. Os sobreviventes têm que conviver com corpos, falta de comida, água, remédios e de esperança. O desespero acaba gerando violência.
Entendo e apoio a posição do Brasil, com ressalvas. É importante enviar ajuda por uma questão humanitária, ajuda nunca é demais. E também projeção internacional. Não é segredo para ninguém que a intenção do Brasil é se tornar uma grande nação, uma potência. Para obter esse reconhecimento internacional, essas ações são importantes.
O que questiono é o motivo desses milhões de dólares não terem sido arrecadados antes. O Haiti sempre precisou de ajuda. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, a tragédia não seria desse tamanho todo. Nesse ponto o Brasil já atuava da forma que podia, mas e outros países? Não é melhor prevenir do que remediar?
Existe outro ponto importante, que diz respeito somente ao Brasil. Não podemos nos esquecer dos nossos haitianos. As tragédias da virada do ano não podem ser esquecidas. Pessoas ainda estão desaparecidas, muitos ainda estão desabrigados, alguns perderam tudo o que levaram a vida toda para construir. Qualquer chuva de meia hora gera caos em nossas grandes capitais, a violência atinge pontos críticos. Uma parcela considerável de brasileiros sobrevive como as pessoas do Haiti. Isso tudo sem mencionar a situação da seca de alguns estados que nunca foi resolvida e gera sofrimento a uma parcela importante de nossos cidadãos.
O momento é de reflexão e de luto. Vidas de brasileiros se foram nesse terremoto, gente que fazia um trabalho bonito. Que essas mortes não sejam em vão. Que o Brasil continue ajudando às nações que necessitam, mas que não se esqueça de resolver seus próprios problemas.