sábado, 23 de abril de 2011

Passado! *

Como de costume os amigos se reuniram na quinta. Dessa vez em uma casa que alguns deles agora chamam de lar. Os assuntos foram os mesmos de sempre. Futebol, mulheres, os amigos que não apareceram, as tradicionais brincadeiras, tudo regado à polêmica. Mais do mesmo...
Com o avanço da hora alguns foram desfalcando a equipe. Como sempre aqueles dois ficaram. Algumas coisas esses dois só conversam entre si. Essas conversas rendem tanto quanto as coletivas. Ou até mais...
Instigado pelo amigo passou a visitar o baú de memórias que costuma ficar guardado. No passado recente ainda tenta descobrir onde foi que errou. Erros... É certo que errou. Mesmo fazendo o que podia ter feito em algum ponto errou. Nem que tenha sido apenas por ignorar todos os chamados da razão e ter pulado naquela piscina que sabia não conter água suficiente para aquela natureza de movimento. Hoje anda com alguma dificuldade, mas muito melhor do que ontem.
Inspirado no depoimento sincero do amigo o outro também começou a avaliar suas aventuras. Concluiu que de nada adianta se esconder da vida, como havia tuitado alguns dias antes. Se for pra perder que seja jogando e não de WO. Qualquer coisa sempre teria ao menos um ombro amigo pra chorar, sem viadezas...
Pausa nos assuntos sérios para uma grave notícia. Eram as últimas cervejas. Uma cachaça de boa qualidade já havia entrado na conversa. Agora se tratava de um trio. Um apresentou ao outro uma banda que tocava as músicas do Pink Floyd numa levada reggae. O segundo estranhou as músicas e os novos hábitos do primeiro. Sem críticas. Já são adultos o suficiente para saber o que devem fazer. E se entendem...
Novamente instigado pelo amigo volta a visitar aquele baú de memórias. Mas agora os questionamentos exigem exame de arquivos quase deletados pelo tempo. As perguntas são bem diretas. As respostas nem tanto. O tempo apagou uma série de detalhes. Aquele lance de memória seletiva e talsss. Ainda assim tinha muito que falar. E falou... Lembrou-se dela e lamentou a sorte e a diferença de idade. Provavelmente não a veria nunca mais. Não teria a chance de falar o que sentiu de verdade por ela. O amigo que provavelmente escutava aquilo tudo pela enésima vez aparentou atenção. Tecia comentários, mas provavelmente pensava também em algo pra comer, ou no que faria no feriado com seu novo amor. Aparentava atenção e felicidade. O outro ficou feliz por ele.
A sexta-feira santa já havia raiado. Uma conversa iniciada apenas para esperar o tempo passar e as operações da Lei Seca acabarem rendeu bastante. Um sugere que procurem uma padaria. Um cafezinho agora cairia muito bem. Acharam a padaria com algum esforço. A recompensa seria um misto com ovo no capricho. Eles nem dormiram ainda e já tem gente trabalhando a mil por hora. Após fazer o pedido olhou para parede e viu um quadro com o rosto do Homem sacrificado dois mil anos antes. Mesmo não sendo religioso achou que a figura o olhava diretamente. Olhou para a atendente e disse: “Tem como fazer o meu sem presunto?” A padaria inteira riu. Comprou um sonho para adoçar a vida. Chegou em casa e esperou passar todo o álcool que tinha bebido pra dormir. E dormiu o resto do dia...

*Inspirado em fatos reais.

Um comentário:

paula disse...

a frase original é a seguinte: se fosse em Minas não teria problema em achar a padaria...sinta-se à vontade para deletar o comentário anterior.