sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Era um fim de semana como outro qualquer do ano de 2001. A semana que tinha sido bem diferente. Para mim e pro mundo. Estávamos eu e Mateus em uma festa na UNB. Passamos em quase todas as barracas da festa para saber o que cada uma tinha de bom e para ajudar os CAS a arrecadar uma graninha também. Nossa pouca idade permitia experiências variadas com o álcool e uma ressaca moderada no dia seguinte, o que nos encorajava ainda mais.
Uma dessas barracas me despertou a atenção. Adesivos espalhados pelo interior faziam alusão ao ataque terrorista de 11 de setembro ao World Trade Center. Esse tinha sido o assunto da semana inteira. Lembro-me que naquele dia, uma terça-feira, meu pai me acordou (fazia estágio à tarde e provavelmente estava matando aula, ou a UNB tava de greve, não me lembro bem) dizendo: “Acorda aí e liga sua TV. Você não faz História, aproveita que ela está acontecendo agora.” Obedeci e vi tudo que estava acontecendo. Estarrecido. Seria impossível imaginar o que estava ocorreu ali. Um ataque daqueles na maior potência do mundo. Não sabia de que forma, mas tinha certeza que o mundo ia mudar depois daquilo. Não precisava nem ser esperto pra pensar isso.
Feita essa digressão e voltando a tal barraca, os adesivos me fizeram parar. Virou pro Mateus e falei: “Olha aquela merda ali.” Ele só mandou um putz. Fomos pra barraca. Depois de conversar algumas amenidades com um rapaz que vendia as bebidas eu não agüentei e disse: “Amigo, você vai me desculpar, mas esses adesivos que estão aí dentro são de extremo mau gosto.” Esqueci de contar como eram os adesivos. Uma paródia do clássico “I Love NY”. Com uma pequena explosão no lugar do coração. O sujeito ficou revoltado e iniciou um discurso contra a classe média brasileira, falou um monte e finalizou com um “eles e vocês merecem isso mesmo”. Só faltou usar o discurso batido dos partidos brasileiros de esquerda, por trabalho e terra vote xx. Vi que aquela conversa não iria pra frente, mas que os outros integrantes da barraca correram para arrancar os adesivos. Missão cumprida. Paguei a bebida, lamentei a posição daquele cidadão e fui embora. Eu e o Mateus tentamos argumentar, mas não tinha jeito.
Alguns dias depois, conversando com mais gente da universidade, percebi que muitos pensavam como o sujeito da barraca. Eles merecem isso e ponto final. Fico imaginando o que os países da América do Sul que o Brasil tenta dominar pensam que nós merecemos. Fiquei assustado com a quantidade de gente esclarecida que eu escutei dizendo que aquilo era aceitável.
Não consegui ainda avaliar o impacto desse ataque para a história da humanidade. Historicamente pouco tempo se passou. Mas pelo menos duas guerras já aconteceram também por causa daquele dia. O tempo vai se encarregar de dizer o que tudo isso gerou. Que o mundo mudou não há dúvida. Minha cabeça de 20 anos conseguiu ver. E a sua, o que viu?

2 comentários:

Guilherme Moura disse...

Professor, acho que aquele dia todo mundo sabe o que estava fazendo. Me lembro quando saí da aula no 3° ano pra ir almoçar e já tava a galera lá fora: "tão bombardeando os EUA". Fu eu para o restaurante ver o que estava acontecendo. Na época achei o máximo, mas, como você sabia que o mundo iria mudar. Bem, hoje não acho que aquilo foi o máximo e acho tb que o mundo piorou depois daquilo td.
Obs: outro dia que td mundo sabe o que estava fazendo é o da morte do Senna.

Alberto Passos disse...

Tio pior que é verdade, são dois dias que todo mundo lembra o que estava fazendo. Eu estava saindo da escola também e de repente todo mundo estava parado numa cantina vendo meio sem acreditar e sem entender direito o que acontecia. Concordo que o mundo mudou, mas o problema é que mudou pra pior. Ninguém pára p pensar o porque aconteceu isso e tenta fazer algo p melhorar pra que não volte a acontecer, é só revidar que interessa.