quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Entre os dias 27 e 29 de agosto, participei da VI Conferência dos Advogados do Distrito Federal. Tudo muito bonitinho e bem organizado. Palestrantes de nível reconhecido, ministros, juízes, advogados de sucesso. E como é tudo muito chato. Depois desse tempo que passou e analisando tudo friamente, parece que não pertenço ao mundo das letras. Como já disse, pessoas de renome, falando para grande platéia, uns bem atentos anotando cada palavra, outros nem tanto.
Cabe aqui uma pequena mudança de rumo. Nem em um evento solene como este os horários são respeitados. Nenhuma das palestras começou na hora marcada e em todas elas o fluxo de pessoas era intenso, isto é, palestrantes e ouvintes sempre estavam atrasados. O palestrante Luis Roberto Barroso deu uma boa justificativa: “Partimos exatamente no horário, o destino é que atrasou alguns segundos”. Pela justificativa, esse foi perdoado.
Não posso esquecer o corpo do cerimonial, foi o que de mais atraente apareceu pelo Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Imagine você, pelo menos dez mulheres lindas, com saias acima do joelho e meias pretas. Sacanagem. Como prestar atenção em uma palestra com essas meninas circulando pelo salão. Isso sem falar da platéia, belas meninas de várias idades.
Muito curioso prestar atenção ao público presente. Não sei o que acontece com a galera do Direito, mas o fato é que todos se acham (como a moçada de hoje diz). Agora, pensem comigo, caros leitores, se um estudante já tem dois reis na barriga e acha que sabe de tudo imagine o que deve pensar um Ministro, um grande doutrinador, ou um advogado de sucesso. Todos se expressam bem e defendem suas idéias com veemência e alguma clareza. Clareza para os seus. Sem falar nos trajes.
É evidente que cada grupo profissional tem suas especificidades. Em palestras de operadores de direito para advogados e estudantes é lógico que essas peculiaridades irão aparecer. O que incomoda é o exagero e a soberba que apresentam essas pessoas. A linguagem utilizada e a forma como se portam os operadores do direito os afastam das pessoas mais simples, que são as mais necessitadas dos remédios jurídicos disponibilizados pelo Estado. Aquele que não pode se socorrer sem ajuda.
Dois temas abordados na conferência chamaram minha atenção. Primeiro, a inviolabilidade do escritório profissional do advogado. A aprovação de lei que decreta a inviolabilidade dos escritórios de advocacia foi muito comemorada pelos palestrantes. Argumentos contrários e a favor são vários. Porém, essa discussão não é o objetivo desse polst. Segundo, a necessidade e a urgência do melhoramento das defensorias públicas do nosso país. Melhorar a estrutura e a qualidade dos profissionais que atuam nesse seguimento do direito. A parcela mais carente da população continua sem ter acesso ao poder judiciário com a qualidade prevista na lei, pois as defensorias ainda não apresentam a qualidade que deveriam ter. É comum o senso de que só o pobre sofre as penalidades que a lei brasileira impõe. Senso esse que é comprovado pela realidade. Quem tem bons advogados e grana pode recorrer a todos os meios possíveis para se manter solto, ou se estiver preso pode até saborear uma lagosta com camarão na prisão. A verdade é que os bons profissionais não têm interesse em fazer os concursos para a defensoria. O cargo não conta com o prestígio e nem com a remuneração de postos equivalentes.
Essas são algumas de minhas aflições, coisas que me incomodam nesse mundo do direito. Parece que muitas dessas coisas fazem essa engrenagem girar. Não tenho mais a pretensão de mudar o mundo. Já a tive dos 17 aos 21 anos e vi que isso não passa de uma mera ilusão. A grande questão que se apresenta agora é como trabalhar nesse ramo que escolhi (não tenho mais tempo pra perder e “só quero saber do que pode dar certo”) sem ter que passar por cima das coisas que acredito e que formaram toda minha forma de pensar e agir. Vou ter que pensar mais sobre isso...

P.S. : A palavra humildade foi citada na conferência, apenas uma vez.

4 comentários:

Paulo Rená da Silva Santarém disse...

Episódio novo, história velha. Essas palestras em que o público não fala nada e só ouve sempre são essa monotonia. Hoje sou adepto dos eventos pequenos em que as discussões são grandiosas.
Rei na barriga é doença degenerativa do caráter (inventei agora)! Mas não é exclusividade do direito. Jornalista, economista, médico, empreiteiro, engenheiro: tem gente esnobe em tudo que é canto.

Anônimo disse...

"A grande questão que se apresenta agora é como trabalhar nesse ramo que escolhi (não tenho mais tempo pra perder e “só quero saber do que pode dar certo”) sem ter que passar por cima das coisas que acredito e que formaram toda minha forma de pensar e agir." Resumiu tudo que eu penso sobre a minha relação com o Direito desde que estou no quarto pe´riodo de faculdade. E é uma dúvida bem cruel viu professor.

Unknown disse...

Gui e Paulinho isso que vcs colocaram: "A grande questão que se apresenta agora é como trabalhar nesse ramo que escolhi (não tenho mais tempo pra perder e “só quero saber do que pode dar certo”) sem ter que passar por cima das coisas que acredito e que formaram toda minha forma de pensar e agir." Isso incomoda todos em qualquer profissão escolhida, mas, a decisão sempre vai ser nossa, a pressão pode vir de todos lados mas a decisão é só nossa. E acho que a idéia não é mudar o mundo mas nos manter íntegros para mudarmos o pouco ao nosso redor.

Unknown disse...

Ah professor, peço licença pra mais um comentário: Hoje faltou técnica mas a vitória do Mengão foi como há algum tempo não via, na raça e superação. Abração